A região do Espírito Santo no Brasil é outra clara exceção que rompe completamente com a crença de que o Brasil só produz cafés enfadonhos com rótulos como 'nozes' ou 'chocolate'. Para o provar, não hesitamos em continuar a nossa viagem por este grande país para descobrir esta região. Viajamos de São Paulo para Victoria, onde tivemos um encontro com Rafael, gerente de uma pequena e jovem empresa focada em apoiar produtores do Espírito Santo. Esta área é provavelmente uma das regiões esquecidas do país devido à crença equivocada de que aqui absolutamente nada acontece ou se produz. Este desprezo parece-nos muito curioso, pois para nós tem sido uma das regiões mais estranhas e emocionantes que visitamos nos últimos anos.

Tradicionalmente, no Brasil, o café é processado pelo método seco ou natural, em regiões de baixa altitude, já que a principal produção ocorre nas terras altas. Pessoalmente, nunca deixamos de acreditar na existência do 'elefante branco' embora nunca tivéssemos imaginado que poderíamos encontrar cafés com perfis característicos do Chifre da África no Brasil; complexo e com acidez proeminente onde os frutos tropicais são extravagantes e deliciosos. É claro que não imaginávamos que esse café seria produzido abaixo dos 1.000 metros de altitude e não confiávamos que a variedade Catuaí seria a que ocuparia esse lugar privilegiado.

Foi quando todos os nossos estereótipos e regras foram por água abaixo. Pudemos simplesmente ficar em silêncio e contemplar aquele lugar maravilhoso rodeado de montanhas como se fosse a Colômbia. A proximidade com o Oceano Atlântico provoca um clima muito característico, tornando drástica a diferença de temperatura entre o dia e a noite. Além disso, a maioria dos produtores são pequenos e médios, como é o caso da América Central ou da Colômbia, com respeito pela preservação das florestas, o que é incomum neste país onde a bacia amazônica e outras áreas estão altamente ameaçadas por culturas intensivas e agressivas.

Dito isto, concentremo-nos no café e nos perfis que encontrámos onde as notas de fruta tropical falam por si. Muito limpos e complexos, esses lotes são marcados pelo processo semilavado ou, poderíamos dizer, quase lavado, algo excepcional no Brasil. Durante a nossa visita apaixonámo-nos por Joselino, que representa uma linhagem de produtores cuja imaginação, dedicação e respeito pela natureza nos deixaram sem palavras. Joselino tem mais de um hectare de café e mais de 5 de floresta. Ele comenta que a floresta protege sua plantação de café, pois as pragas chegam a outras espécies de árvores antes dos cafeeiros. Seu moinho a seco e a úmido foi construído por ele mesmo e seu filho com a mesma precisão de um engenheiro e, além disso, eles aplicam suas próprias invenções a qualquer processo. Na nossa opinião não há nada mais ligado ao ‘Lado Direito’ – lado direito do cérebro – do que esta atitude de proporcionar criatividade quando não existem recursos.

Esta seleção de cafés do Espírito Santo foi produzida e torrada para apagar de uma só vez o estereótipo criado em torno do café brasileiro. Adoramos trabalhar com essas exceções, que para nós são milagres que devem ser apreciados e, acima de tudo, aproveitados.